quarta-feira, 23 de março de 2011

A magia do apito

Agonia. É isso que se sente quando o inevitável fim está próximo. Cinco minutos que separam uma tímida esperança de um trágico desfecho. Trezentos segundos que separam o bem do mal, a vida da morte. Um filme vem imediatamente à cabeça. Foram dias de expectativa, gozações, xingamentos e desrespeito mútuo.

Quando tudo parecia acabado, um apito transforma som agudo em esperança. Eis que surge ele... o arquétipo do heroi, do mito. Tinha que ser ele. Oriundo de terras distintas, uma alcunha incomum, pequeno por fora e gigante por dentro. O mesmo apito que transformara agudo em esperança, como num passe de mágica, nos deixa imobilizados. Faz desaparecer outros setenta mil torcedores. Naquele momento, eram três personagens e um objeto: A bola, o heroi e o vilão. Eu era objeto.

E ele partiu. Mas não foi sozinho. Foi com outros 35 milhões de fanáticos que depositaram naquele heroi todos os seus anseios. O vilão fez tudo o que pôde, até voar, voou. Mas nada nem ninguém era capaz de defender o indefensável. O lendário narrador da Rádio Tupi/RJ disse no momento do gol que: "Pareceu com a mão, ele colocou a bola alí com a mão". E ele estava certo... Alí estavam as mãos de Deus, de Zico, do dono da maior emissora do país, estavam as minhas mãos, as mãos do flanelinha que pastora carro na Ribeira, as mãos de milhões de Josés e Marias, de pobres e ricos, de pretos e brancos - sem esquecer do vermelho. O apito que transformara agudo em esperança, que me deixava inerte, agora me trazia tudo o que eu queria ouvir: acabou. E o bem venceu o mal.

Termina sempre assim. Mãos trêmulas, olhos lacrimejando e uma leve taquicardia. Eu não estou doente. Eu sou doente... pelo Flamengo.

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